quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Lucila vai ao estádio pela primeira vez

Por Herberth Brasil

Lucila acordou bem cedo no domingo. Iria pela primeira vez assistir a um jogo de futebol. Ganhou um par de convites em uma rifa do bairro. A partida é entre Violência e o Pancadaria.
Lucila preparou a cesta de lanches com carinho. Levou alguns saduíches a mais, no caso de algum torcedor querer. Chegou bem cedo no estádio do Conflito. A fila do jogo já era grande. O empurra, empurra já rolava. Havia poucas famílias. Os pais que traziam os filhos estavam tensos. De hora em hora, membros das torcidas rivais se estranhavam. Para marcar território cantavam os seus gritos de guerra. O da turma da Violência era assim:

“Pa, pa, pa, pa, pa, pa, pa, pa, pa...cuidado Pancadaria porque o Violência vai te pegar”.

A torcida do Pancadaria não deixava por menos.

“Eo, eo, cuidado Violência porque o Pancadaria chegou”.

Lucila não tomava partido. Não torcia para ninguém. Só estava ali, porque queria saber como era uma partida de futebol. Os portões foram abertos. Na hora da revista um guarda peguntou para Lucila:

— O que tem nessa cesta?
— São lanches.
— Duvido. Deixa eu ver. Espero não encontrar nenhuma faca, estilete, garrafa de vidro ou bombas caseiras.
— Deus me livre.
— Tá liberada.

Lucila sentou de frente para o gol do Pancadaria. Torcedores do próprio time começaram a lançar copos de plástico cheios de urina. Um deles acertou a cabeça de Lucila. Os lanches não puderam ser aproveitados. O cheiro era forte. A torcida pulava. O estádio tremia todo. Os times entraram em campo. Vinte minutos do primeiro tempo e nada. As torcidas estavam angustiadas. Alguns torcedores fumavam um baseado para diminuir a ansiedade, mas o resultado era outro. Ficavam mais eufóricos ainda. Pênalti não marcado para o Violência. A mãe do juiz entrou na reta.

“ A mãe do juiz é nossa, se vacilar a gente mete a broca”.

Cruzamento pela direita na área do Pancadaria. Didi, o esquecido, mata a bola no peito e bate. A bola faz a curva feito folha seca no vento. Engana o goleiro e entra. Um a zero para o Violência. O primeiro tempo acaba. A imprensa invade o campo para falar com os jogadores. Os narradores ficam no ouvido dos repórteres querendo uma declaração. Os da TV são os piores. Só esperam uma brecha para criar polêmica. Querem prender a atenção dos telespectadores. Tem muito narrador Talvão por aí.
O segundo tempo recomeça. Falta a favor do Pancadaria. Os jogadores vão pra cima do juiz. O intimidam. Chove cartão amarelo. Falta cobrada. A bola tem destino certo. Sem chances para o goleiro do Violência.
Lucila é obrigada a segurar a bandeira que cobre toda a torcida do Violência. Os torcedores agitam e dão movimento para o ernorme pedaço de pano.
Quinze minutos para o fim do jogo. O empate favore o Violência e garante a vaga no campeotado. Os jogo está prestes a acabar. Lucila percebe uma briga atrás dela, entre torcedores do Pacada...A polícia invade a arquibancada. Coronhada em cima. O juiz é obrigado a encerrar o jogo com antecedência. Torcida do Pancadaria de um lado e policiais do outro. Lucia se desespera. É empurrada. Cai. Policias tentam ajudar. Cruzam a linha de fogo. As trocações recomeçam. Chega reforço policial. Um tiro é ouvido. Tem torcedor caído no chão. Lucila sai do meio da confusão. Procura atendimento médico no estádio. É medicada e volta para casa levando as recordações da primeira vez que foi a uma partida de futebol.